Disputa por Amazônia motivou vinda de D. João VI

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009


Disputa por Amazônia está na raiz da fuga da família real, diz historiador

Português disse que fuga foi 'grande saída' de D. João 6º, sob pressão de
Napoleão.

Fonte: O Estado de São Paulo, 07 de Março de 2008.

Um historiador português defende a tese de que uma disputa territorial na
região da Amazônia envolvendo a França e Portugal está na raiz da fuga da
família real portuguesa para o Brasil em 1808, depois que os franceses
invadiram o país europeu.

Para o historiador Jorge Couto, antes da invasão das tropas de Napoleão em
1807, os franceses pretendiam ampliar a Guiana Francesa até a margem norte
do rio Amazonas.

"A reivindicação territorial foi feita em 1797 pelo Diretório, ainda antes
de Napoleão assumir como imperador da França. Uma das atribuições do
Diretório era a de fixar as fronteiras", disse Couto à BBC Brasil.

O historiador, que é diretor da Biblioteca Nacional de Lisboa - uma das
principais fontes de pesquisa sobre a história de Portugal - indicou quais
eram os três objetivos da invasão francesa de Portugal: Dividir o território
português com os espanhóis, tomar posse das colônias portuguesas e colocar a
marinha portuguesa a serviço dos franceses.

Construção da história

Para Couto, a ida para o Brasil foi uma grande saída do regente português D.
João 6º.

"Portugal era a única parte da Europa continental que não estava sob o
domínio de Napoleão. Não havia alternativa. Entre os franceses e os
ingleses, D. João escolheu o mal menor, os imperialistas mais
inteligentes."

Ele conta que Portugal ainda tentou negociar com os franceses.

"Foi oferecido direito de os franceses negociarem nos portos portugueses da
mesma forma que os ingleses; foram oferecidas possessões na África, mas não
no Brasil."

O historiador acredita que, por motivos políticos, procurou-se caracterizar
a fuga da família real para o Brasil como atabalhoada e D. João 6º como uma
figura caricata.

"Foi uma construção da história. Os países, para se firmarem como
independentes tendem a diminuir o papel do colonizador, ridicularizá-lo."

Os portugueses tinham nessa época 21 navios de guerra e 33 mercantes.

Couto explicou que o objetivo francês de ter a Marinha portuguesa a serviço
dos franceses e espanhóis se deve às derrotas marítimas desses países pelos
ingleses nas batalhas de Abuquir, em 1798, e Trafalgar, em 1805.

Eles pretendiam usar os navios portugueses para combater o domínio inglês do
mar.

"A Marinha portuguesa era a terceira maior do mundo, atrás da inglesa e da
americana. A espanhola e a francesa tinham sido destruídas e a dinamarquesa
havia sido bombardeada pelos ingleses em 1805, no porto de Copenhague,
quando a Dinamarca aderiu ao bloqueio continental à Inglaterra."

--
"O talento educa-se na calma, o caráter no tumulto da vida."
(Goethe)
----
Fabrício Augusto Souza Gomes
fabricio.gomes@gmail.com
MSN: fabriciosgomes@msn.com
► Leia mais...